terça-feira, 20 de abril de 2010

Arte: como e com que olhos devemos olhar para ela?

Pessoal, estou postando esse artigo que escrevi há algum tempo porque acho que pode nos ajudar a parar pra pensar sobre qual é a nossa relação, não só com a Literatura (o que nos interessa aqui), mas com a arte em geral. Por isso, leiam, comentem...
Vamos discutir a respeito.


Bons Estudos!

 

      “Não sei bem o que dizer... Talvez por não ser da área de Humanas, eu não tenha elementos para emitir uma opinião ou interpretar essa obra...” Foi isso o que disse, certa vez, um estudante universitário quando perguntado sobre o que achava de uma obra de arte.
      Ora, qual seria a vantagem de pessoas da área de Humanas nessa questão? É exclusividade de alguma área específica voltar o olhar para uma obra de arte, seja qual for sua modalidade? O que é preciso ter para saber olhar a arte em geral? Existe um curso para isso? Como e com que olhos a arte deve ser olhada?
      Essas são apenas algumas das questões levantadas usualmente nos questionamentos a respeito da arte. Mas não nos assustemos, isso não é o bicho de sete cabeças que parece à princípio. Que tal pensar um pouco sobre isso?
      É claro que há pessoas que se dedicam em tempo integral a estudar esses liames salgados que se colocaram nas questões levantadas acima: a retaguarda teórica que elas levam em conta é vasta e sempre dá muito pano para manga. Mas o que precisa ficar claro aqui é o seguinte: não há um grupo específico e seleto de pessoas que têm a permissão de olhar para uma obra de arte e julga-la. Todos nós, como seres humanos que somos, podemos sim fazer isso, porque uma obra de arte, de um modo ou de outro, sempre nos diz algo, ainda que seja um curto e grosso não estou dizendo nada.
      Maravilhados ou perplexos, satisfeitos ou enojados, comovidos ou chocados, apaixonados ou indiferentes sempre ficamos, de algum modo, quando nos deparamos com uma obra de arte, seja ela uma pintura, uma escultura, um livro, ou outra modalidade artística. Até mesmo no caso da indiferença temos algo a dizer: não vi nada de mais nisso, e daí, não fez diferença nenhuma em minha vida, etc. Se é assim, então por que motivo dizer que, por não ter determinados conhecimentos, não se tem elementos para olhar a arte?
      Na perseguição dessa resposta – que certamente não vai aparecer respondida, pronta e acabada, do nada – uma coisa é certa: qualquer um é capaz de exprimir o que pensa de uma obra e ninguém pode dizer que não seja assim. Isso porque a opinião formada a respeito pertence a quem a emitiu e, se foi formada assim, é porque houve motivos para tanto. Claro que é possível conversar sobre o que fundamenta essa opinião ou até confrontar perspectivas diferentes, mas nunca seria possível dizer que uma opinião está ou não errada, ela é um juízo pessoal.
      Afinal, quando temos contato com uma obra de arte, ela nos diz algo, de alguma maneira ou pode, mesmo, não dizer nada. E agora: alguém pode dizer que a impressão causada está errada? Ora, ela provém do meu contato com a obra, e não há regra determinada que diga o que se deve ou não sentir, nem de que maneira. É por isso que, de um certo ponto de vista, podemos dizer, por exemplo que há tantos livros quanto são os seus leitores, já que cada um o lerá de modo diferente. Isso significa que todos tem, sim, elementos para dizer o que pensam de uma obra de arte, e não é preciso ser da área de Humanas para ser capaz de fazer isso.
      Não podemos esquecer, contudo, que quanto mais vamos tendo contato com esse universo fantástico, mais vamos formando nossos próprios critérios a partir da bagagem que vamos constituindo. Mas como ninguém nasce pronto, até mesmo aqueles que demonstram grande traquejo quanto se trata do tema tiveram de começar por algum lugar. É ponto para a democracia da sensibilidade artística.
      Em resumo, o que precisa ficar disso tudo é o seguinte: a apreciação da arte é patrimônio de todos. A dimensão artística é inerente ao ser humano, e ninguém precisa necessariamente fazer arte para ser capaz de sentir algo a partir dela. Combinemos o seguinte: se perguntarem com que olhos se deve olhar a arte, respondamos, simplesmente, “com os seus“.
      Alguns procuram entender o que motivou uma obra, outros procuram harmonia; uns querem suavidade e leveza; outros, ousadia e provocação - até mesmo o grotesco. O fato é que, seja como for, nossa sensibilidade não deve ser subestimada, ao contrário, é preciso exercita-la, usa-la, porque não se paga imposto por isso.

Ana Pismel
Publicado no sote recanto das Letras
20/10/20009

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