quarta-feira, 14 de julho de 2010

LITERATURA NO VESTIBULAR 2011 - USP E UNICAMP

Maria Theresa Fraga Rocco *

Veja ao lado os livros da lista unificada exigida pela FUVEST, disponíveis para baixar em arquivo pdf.
Entrevista com a Profa. Dra. Maria Theresa Fraga Rocco (FE-USP/Fuvest):
— Como você vê a relação entre a experiência com a literatura e a formação escolar hoje?
À primeira vista, a relação entre a experiência com a literatura e a formação escolar hoje parece ser uma relação de divórcio. Há um consenso generalizado no sentido de que “o jovem não lê”. Isso não é exatamente correto: o que acontece é que, no repertório da leitura que atrai o jovem hoje, a literatura não está muito presente. O jovem, em geral, só vai conhecer a literatura quando é levado a ela pela escola – muitas vezes, ele só lê “obrigado”. Entretanto, a partir deste ponto, muitos passam a gostar enormemente dessa experiência com o estético na leitura.
Então, a partir do momento em que se ultrapassa aquela estranheza e distância iniciais, eu vejo a experiência dos jovens hoje com a literatura como muito satisfatória.
Nesse percurso de conhecer a literatura, em geral, o primeiro ponto que atrai o jovem na leitura é o enredo, a história contada nos livros; mas em um segundo momento, ele passa a desenvolver uma sensibilidade estética – passa a se perguntar: “Por que isso é literatura? O que tem este texto que o torna uma obra literária?”. E quando isso acontece, está cumprida a função da exploração da literatura no âmbito da formação escolar. É aí que ficamos felizes. Só este fato, só este despertar de uma visão estética, já justifica, a meu ver, a inclusão da preocupação com um repertório de leitura literária na formação escolar.
— Nesse sentido, qual é o papel da lista de livros recomendados pela Fuvest?
Em primeiro lugar, é claro, a recomendação dos livros é um dos fatores que cumpre esse papel de apresentar a literatura ao jovem – que, mesmo se configurando inicialmente no sentido de uma “obrigação”, termina por valer a pena, quando se chega àquele ponto de revelação que eu mencionei anteriormente. Mas além disso, há um segundo fator: quando a lista é composta, note-se que ela tem uma espinha dorsal, que vem desde a antiguidade até o contemporâneo. Nossa preocupação nesse aspecto é mostrar a mudança das formas literárias; é mostrar que elas não vêm “do ar”, elas remetem a todo um contexto histórico. Então uma das funções que vemos na lista é a de fazer o aluno mergulhar nesse arcabouço da história da literatura, desde os autores mais antigos até os atuais. E isso se une ao que eu dizia anteriormente sobre a descoberta do estético: o jovem pode sentir um grande estranhamento num primeiro contato com uma obra de Gil Vicente, por exemplo – pode até achar graça naquilo de início – mas num segundo momento, ele passa a perceber o
valor da obra, sua relação com seu tempo, e começa a construir um olhar renovado. A construção desse olhar é também uma das tarefas que a recomendação dos livros cumpre.
— Que critérios a comissão segue para elencar os livros escolhidos a cada ano?
Um dos critérios principais, seguindo na linha do que eu disse há pouco, é a preocupação com a evolução da obra literária no tempo. Procuramos reunir, entre os livros recomendados, alguns dos principais representantes dos movimentos mais significativos da literatura em português. Mas além disso, pela natureza dessa reunião de obras, seguimos também o critério da “legibilidade” – ou seja, buscamos selecionar obras que consideramos legíveis para o jovem, já que para muitos esta representa a primeira experiência com o texto literário. Então, procuramos um equilíbrio entre a intenção de levar o aluno a mergulhar naquele arcabouço para poder perceber o fato estético-literário na história (de um lado), e a atenção à questão da acessibilidade das obras, de outro.
— Como o jovem deve se preparar para a entrada na universidade a partir dessas recomendações?
O que o jovem precisa fazer é ler, ler, e ler as obras indicadas – e, de preferência, ainda outras! Esse jovem está se preparando para entrar na Universidade, e deve perceber que a Universidade se abre para ele de um modo plural. A experiência ideal na Universidade é a experiência da pluralidade! E a literatura, justamente, é uma abertura para uma visão plural do mundo.
É sobretudo por isso que o aluno nunca deve confiar em resumos, ou em “aulas-show”. Nada disso vai dar a ele a relação que ele precisa estabelecer com a literatura, nesse sentido de se abrir para um novo mundo. Ele precisa estabelecer aquela ligação solitária com o livro... É ele, e o livro. Essa aparente solidão é o que vai se abrir para muitas vozes. O livro é que vai se abrir para ele, o livro é que vai ampliar o seu repertório de vida.
No fundo, portanto, se preparar para a Universidade é se preparar para abrir a cabeça e viver a vida. A literatura permite isso. Só o livro permite isso. É um ato de aparente solidão, mas é o ato mais plural de todos.

* Maria Theresa Fraga Rocco, professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, é diretora da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) desde 2001. 
 
Fonte: http://www.brasiliana.usp.br/node/487

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